Lisboa, 22 de Setembro 2008
Ex.mo Senhor Bastonário da Ordem dos Engenheiros,
Envio a seguir cópia de um artigo que publiquei no jornal 'O Ribatejo', na passada 5ª feira, em que referi a quase impossibilidade do futuro comboio para o Porto à saída de Lisboa seguir pelo Vale do Trancão, e exprimi a esperança de que a Ordem dos Engenheiros se venha a interessar pelo assunto.
Penso que é um problema que põe em causa o prestígio da Engenharia portuguesa.
Envio este email em simultâneo para algumas centenas de organismos e individualidades que penso poderem interessarem-se pelo assunto e contribuírem para que ele seja de facto discutido.
Com os meus melhores cumprimentos
António Brotas
Membro 5757 da Ordem dos Engenheiros
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António Brotas
Membro 5757 da Ordem dos Engenheiros
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A IMPROVÁVEL ESTAÇÃO DO TGV EM RIO MAIOR
Os jornais noticiaram, com base em informações da RAVE e da REFER, que iria ser construída em Rio Maior uma estação para comboios TGV .
Penso que esta estação nunca virá a ser construída pelas razões que a seguir passo a expor, e que aqui deixo como elementos de um debate sobre os Caminhos de Ferro que me parece urgente iniciar no distrito.
Em Agosto de 2005 a RAVE adjudicou a um consórcio, por 4,3 milhões de euros, o estudo de um troço de Pombal a Alenquer, com uma estação na Ota, da futura linha do Porto a Lisboa, destinada a comboios TGV de bitola europeia, sem ainda saber como é que esta linha entraria em Lisboa.
A avaliação ambiental deste projecto não chegou, no entanto, a ser feita, porque teria de ser feita em conjunto com a avaliação ambiental do projecto do aeroporto da Ota, que nunca passou de um vago esboço.
O estudo feito revelou, no entanto, desde logo, o inconveniente do trajecto proposto obrigar, na passagem entre as serras de Montejunto e dos Candeeiros, a declives demasiado elevados que o tornavam inconveniente para o trânsito de comboios de mercadorias.
Posteriormente, as populações dos concelhos de Alcobaça e da Batalha aperceberam-se, também, de que a passagem dos TGV's nos seus concelhos lhes trariam significativos inconvenientes. A grande incógnita continuou, no entanto, a ser a de como é que a futura linha entraria em Lisboa, o que poderia obrigar a custos elevadíssimos.
O que a RAVE agora aparentemente propõe é que o referido estudo (que tivemos de pagar) em vez de ser posto de lado, seja remodelado (o que obriga a novas despesas) para ter uma estação em Rio Maior em vez de na Ota. Assim, a RAVE que se dispôs a construir uma linha com inconvenientes e custos elevadíssimos para fazer passar os TGVs no aeroporto da Ota, dispõem-se a fazer uma linha, com os mesmos inconvenientes e os mesmos custos, para fazer passar os TGV's numa estação em Rio Maior.
O problema relaciona-se com o da TTT, terceira travessia ferroviária do Tejo. A decisão sobre a TTT não pode, obviamente, ser tomada sem, simultaneamente, ser decidida a saída de Lisboa da futura linha de bitola europeia para o Porto , que será a mais importante linha ferroviária portuguesa.
Tem sido anunciada a construção de uma ponte para o Barreiro destinada aos comboios para Badajoz, para o Algarve, e para a navetes para o novo aeroporto, mas não para os comboios para o Porto, e foi igualmente anunciado que o Arquitecto Calatrava já foi contratado para ampliar a gare do Oriente de modo a ela poderem chegar os comboios vindos de Badajoz e dela partirem os comboios para o Porto.
Mas, como seguirão para o Porto estes comboios saídos da Gare da Oriente? A proposta da Secretaria de Estado dos Transportes, da RAVE e da REFER parece ser a de que, à saída de Lisboa, estes comboios sigam pelo vale do Trancão. Ora, qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos de Topografia que olhe a carta topográfica 1/50.000 editada pelo Instituto Geográfico Cadastral vê, imediatamente, que este trajecto teria custos gigantescos.
Até agora, a RAVE e a REFER não tiveram a coragem de divulgar, nos seus site, o trajecto em que pensam desenhado numa carta com curvas de nível. Espero que a Ordem dos Engenheiros se venha a interessar por este assunto. Penso, no entanto, desde já, que o projecto conjunto da ponte para o Barreiro, ampliação da gare do Oriente, saída dos comboios para o Porto pelo vale do Trancão, passagem perto de Alenquer e estação em Rio Maior, passagem por entre as serras de Montejunto e Candeeiros e pelos concelhos de Alcobaça e Batalha, não é realizável por ter vários inconvenientes e custos absolutamente inaceitáveis.
Há outras soluções a estudar e, felizmente, não temos de tomar uma decisão imediata. O que temos de evitar são decisões precipitadas e soluções insuficientemente estudadas.
Entre as soluções que já foram apontadas, há a da travessia ferroviária do Tejo ser feita na direcção do Montijo, podendo neste caso servir para os comboios para o Porto, e ainda, as soluções, incomparavelmente mais baratas, da travessia ser feita um pouco acima ou abaixo de Alverca.
Em todos estes casos, a nova linha para o Porto seguirá pela margem Esquerda do Tejo, talvez, até perto da Chamusca. Faço notar que, neste caso, a nova estação de Santarém será na margem Sul, a vocação ferroviária do Entroncamento poderá ser mantida e poderá, talvez , ser evitada a duplicação da linha do Norte a Oeste de Santarém. O distrito de Santarém é, assim, o distrito em que o futuro ferroviário mais depende das escolhas que vierem a ser feitas. Parece-me uma razão mais do que suficiente para os seus cidadãos se interessarem pelo assunto.
António Brotas Professor Jubilado do IST
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