Lisboa
08.08.05
08.08.05
A água imprópria para consumo ainda mata na Europa. Todos os anos, no velho continente, 13 500 crianças, com menos de 14 anos, morrem com doenças associadas a água contaminada, nomeadamente com diarreia. Para alterar este cenário, entrou em vigor, na passada quinta-feira, o protocolo Água e Saúde, um instrumento internacional de prevenção, controlo e redução de doenças provocadas por água sem qualidade. Dezasseis países ratificaram o documento, aprovado em 1999. Portugal não inclui ainda o rol de signatários, embora o Ministério dos Negócios Estrangeiros tenha já iniciado o processo.Marc Danzon, o representante da Organização Mundial de Saúde (OMS), na Europa, considerou a entrada em vigor do protocolo Água e Saúde "uma data significativa para a saúde pública", pois trata-se do "primeiro instrumento de cooperação internacional na luta contra as doenças originadas pelo consumo de água contaminada".
Segundo dados da OMS, 16 % da população do continente europeu, equivalente a 140 milhões de pessoas, não têm acesso a sistemas de abastecimento e tratamento de água, enquanto 85 milhões - 10% dos europeus -, continuam privados de redes de saneamento.Em Portugal, os números são mais animadores. No que diz respeito a saneamento básico, 68 % da população encontra-se ligada a redes de drenagem, apesar de apenas 46% ver os seus esgotos tratados, o que representa, respectivamente, 6,8 e 4,6 milhões de indivíduos. Quanto ao abastecimento de água, 90 % dos portugueses - nove milhões de pessoas - tem acesso a redes de água potável. No entanto, existem numerosos aglomerados, com baixos índices populacionais, onde a água que bebem não provém da rede pública, sendo muitas vezes consumida com perfeito desconhecimento da sua qualidade.No total do continente europeu, embora 877 milhões de indivíduos tenham acesso a água em condições para consumo, ainda há 41 milhões (5% da população) sem acesso assegurado a água potável. De acordo com os dados da OMS, estes indicadores dizem respeito, maioritariamente, aos países da Europa de Leste.É nos países em vias de desenvolvimento que a água, ou a falta dela, se apresenta como um problema de sobrevivência para milhares de pessoas e, sobretudo, para as crianças. Na faixa etária entre os seis meses e o ano de idade, um período muito vulnerável, em termos imunitários, as taxas de doenças infecciosas provocadas pela falta de qualidade da água assumem proporções preocupantes.
Nos países africanos, em que a SIDA mata de forma descontrolada, muitas mães vêem-se perante um dilema amamentar e transmitir a doença ou dar leite em pó e pôr a vida dos filhos em risco, devido à ingestão de água contaminada.Doenças como a cólera, a malária, infecções intestinais matam milhares de pessoas todos os anos. Outras maleitas, não mortais, podem provocar incapacidades. É o caso do traucoma, uma doença da visão, provocada por uma bactéria contraída ao lavar o rosto. No mundo, existem 500 milhões de pessoas em risco, mas 146 milhões estão, neste momento, à beira da cegueira.As diarreias, incluindo a cólera, provocam a morte a 1,8 milhões de pessoas todos os anos, a maioria das quais crianças com menos de cinco anos. Também a malária continua a vitimar impiedosamente. Todos os anos, a doença do mosquito, que se reproduz nas águas paradas, tira a vida a 1,3 milhões de cidadãos. Destes, 90%, ainda não atingiram os cinco anos de vida.
A pobreza continua a ser uma das principais ameaças à saúde pública. No Bangladesh, entre 28 e 35 milhões de pessoas bebem água com elevados níveis de arsénio. A contaminação por arsénio das águas subterrâneas está registada, ainda, no Chile, China, Índia, México, Tailândia e Estados Unidos.A partir de agora, os países subscritores do protocolo Água e Saúde têm à sua disposição um instrumento que visa permitir o acesso de todos a água potável e saneamento, que poderá evitar milhares de mortes por ano - no terceiro mundo, mas também numa Europa que se considera civilizada.
Por Paula Ferreira in Diário de Noticias Online
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