sábado, 6 de setembro de 2008

O GIGANTISMO DAS OBRAS PUBLICAS ...


Obras públicas deterioram relações entre Cavaco Silva e José Sócrates

06.07.2008, Luciano Alvarez


O Presidente acha que é preciso repensar tudo em matéria de obras públicas. O primeiro-ministro insiste em levá-las por diante. A cooperação estratégica está ameaçada de morte.

Cavaco Silva não está satisfeito com a chamada cooperação estratégica entre o Governo e a Presidência da República e as várias declarações que fez ao longo da última sexta-feira foram, acima de tudo, alertas a José Sócrates para a insatisfação do Chefe de Estado com alguns comportamentos políticos do primeiro-ministro. E a matéria que está a contribuir para esta deterioração das relações não podia ser mais delicada: obras públicas.

O actual Presidente da República não diz nada por acaso. E não foi por acaso que escolheu o dia seguinte à entrevista do primeiro-ministro à RTP para falar de obras públicas, dando o exemplo de uma autarquia que pedia pequenas obras em vez de grandes investimentos.
Mais tarde, alertou para a "difícil situação" do país e para o facto de o "endividamento poder atingir situações insustentáveis".
Como se não bastasse, ontem o semanário “Sol” noticiava que o Chefe de Estado pediu há dois meses informações ao primeiro-ministro sobre os estudos financeiros das novas concessões rodoviárias e até agora não obteve qualquer resposta.

O PÚBLICO confirmou esta informação e sabe que é com surpresa e apreensão que Cavaco Silva vê serem anunciadas sucessivamente novas obras, numa altura em que o país, como salientou o Presidente, está numa "situação difícil". Aliás, a divulgação desta negação do Governo em prestar informações ao Presidente da República é um sinal claro da insatisfação de Cavaco Silva. Em Belém nada acontece por acaso.
"Todos nós gostaríamos que o desempenho [económico do país] fosse melhor.
Vivemos uma situação de afastamento do desenvolvimento médio da União Europeia há anos, mas temos alguma esperança que no futuro a situação será diferente. (???..)É preciso trabalho, muito trabalho, políticas correctas, muito correctas", referiu Cavaco Silva, em Fronteira, no distrito de Portalegre, na sexta-feira.

O PÚBLICO sabe que o Chefe de Estado fartou-se de esperar por informações que o Governo não lhe dá sobre os custos das novas estradas e resolveu passar à acção.
Fê-lo de uma forma subtil, mas muito clara.
Foi buscar o exemplo dos membros da Assembleia Municipal de Portalegre o terem alertado para a necessidade de construção de duas vulgares estradas, em vez de pedirem auto-estradas, para lançar uma clara mensagem ao Governo:

"Apenas solicitaram vias de comunicação que têm um custo relativamente pequeno quando comparado com obras muito avultadas que têm vindo a ser anunciadas no nosso país.... determinados pequenos investimentos têm uma rentabilidade muito mais elevada do que grandes investimentos.
"Com isto, Cavaco Silva quis claramente dizer que o Governo tem de repensar os cerca de 3000 quilómetros de rodovias, a maioria sem portagens, que vai concessionar a privados e que ainda não revelou quais serão os encargos para o Estado.


Dúvidas com o TGV.


O Chefe de Estado tem também dúvidas em relação ao projecto TGV, numa altura em que o país vive uma difícil situação económica.
Tal como ontem lembrava o “Sol”, há dois anos, numa viagem que fez entre Lisboa e Albufeira, Cavaco Silva alertou para a necessidade de se fazer "uma profunda análise custo/beneficio" dos grandes investimentos públicos.
Na altura, ainda que indirectamente, o Chefe de Estado referia-se ao TGV.

Hoje, o Presidente volta ao assunto mas visa as obras públicas em geral. Todas.

O PÚBLICO sabe que Cavaco tem muitas reservas sobre as obras, que também têm sido o cavalo-de-batalha de Ferreira Leite desde que foi eleita líder do PSD, enquanto o Governo insiste diariamente na realização dessas obras, o que faz adivinhar dias mais difíceis nas relações dos inquilinos de Belém e São Bento.
Até porque Cavaco Silva entende que uma das suas principais funções como Presidente da República é cumprir o seu dever de fiscalização e acha, segundo o PÚLICO apurou, que, em matéria de obras públicas, o Governo não lhe está a fornecer os dados para efectuar de uma forma correcta esse seu dever de fiscalização.

Sem comentários: