João Cravinho defende que os projectos de investimento públicos e privados devem ser repensados e reanalisados à luz dos novos dados fornecidos pela crise financeira internacional.O ex-deputado socialista afirma, em declarações ao PÚBLICO, que “o programa de investimentos foi pensado e concebido em circunstâncias que mudaram e que é preciso reanalisar”. Em causa está a restrição global nos mercados de crédito e a “grande dependência da economia portuguesa dos mercados financeiros internacionais”, que pode levar a “um racionamento de crédito que obriga a que haja um critério muito firme sobre os projectos que devem e não devem ser financiados”.
João Cravinho teme que os grandes projectos públicos, pela sua dimensão, absorvam recursos financeiros do mercado financeiro e tornem ainda mais apertada a restrição para as empresas e famílias no acesso ao crédito.“Deve haver mais análise, reflexão, pareceres”, defende o actual administrador do BERD (Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento), sugerindo que se crie uma comissão que, de forma independente e com elevada capacidade técnica, avalie os problemas concretos da economia portuguesa e aconselhe o Governo a tomar estas opções. “Isto é trabalho para o Silva Lopes”, adianta Cravinho, avançando com o nome do economista para liderar esse grupo de trabalho. “Não se trata de deixar as opções políticas para esse grupo de trabalho, mas apenas uma função de aconselhamento”, esclarece o ex-ministro das Obras Públicas do governo de António Guterres.
Além da restrição de crédito na generalidade da economia, Cravinho considera também que cada projecto deve ser reanalisado para se avaliarem os seus encargos de acordo com os dados mais actuais, nomeadamente nos custos de financiamento. “As actuais condições financeiras podem significar encargos muito maiores”, afirma, acrescentando que “o facto de estes projectos não terem impacto directo no Orçamento do próximo ano não significa que não tenham na economia a prazo”."Manta curta"Recordando que as concessões públicas que estão em concurso neste momento ascendem a 6000 milhões de euros, 50 por cento acima do montante de investimento público previsto no OE2009, o ex-deputado socialista considera que “o Governo procura, e bem, ter uma política anti-ciclíca e estimular a procura”.
Mas há “o problema da manta curta e o recurso ao crédito vai ser restrito”, reforça, recordando que o défice externo português é equivalente a 10 por cento do PIB, o que mostra a dependência do país das condições dos mercados financeiros internacionais.“Estamos numa crise cuja duração e profundidade não conhecemos, nomeadamente ao nível das restrições de credito”, afirma. O Orçamento do Estado para 2009, que classifica como “o melhor que o Governo podia fazer nestas circunstâncias”, é “datado com a informação de hoje e pode vir a haver impactos variados sobre a economia pública e privada”.
Antecipando as dificuldades económicas prolongadas por que o país vai passar – “a crise pode durar três ou quatro anos” –, João Cravinho propõe também que se prepare já um grande programa de desenvolvimento para o Norte do país que, segundo diz, será a região que mais vai ser afectada. O Norte do país é responsável por cerca de 40 por cento das exportações portuguesas.
17.10.2008 - 16h46 Paulo Ferreira
in: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1346468
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