quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ligação TGV - Linha do Oeste em Bypass com traçado inalterado e não electrificado


RAVE garante articulação da linha do Oeste com o TGV em Leiria

A Rave, responsável pela implementação do TGV em Portugal, tornou público na passada terça-feira que a estação de Leiria do comboio de alta velocidade ficará localizada na zona da Barosa “em articulação com a linha do Oeste”. Aquela empresa diz ainda que está prevista “uma ligação a esta linha [Oeste] na futura Estação Leiria, a executar em simultâneo com a construção da linha de alta velocidade”. Ficam assim dissipadas as dúvidas sobre a articulação entre a via férrea que serve Caldas da Rainha e Leiria e a linha de alta velocidade Lisboa-Porto. Esta mesma informação já tinha sido veiculada em Dezembro pelo Ministério das Obras Públicas em resposta a um requerimento do deputado Feliciano Barreiras Duarte. Será, assim, possível “a partir da linha do Oeste, aceder às duas localizações alternativas para a nova estação de Alta Velocidade de Leiria”, lê-se na resposta do ministério. As duas localizações alternativas a que o documento alude eram a da zona da Barosa e outra a nascente de Lei- ria, que ficou preterida. O social democrata eleito por Leiria obteve por parte do gabinete do ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações esclarecimentos de que, na impossibilidade de integrar as duas linhas no traçado de alta velocidade, permitindo o acesso directo entre si, se optou pela sua articulação, “o que irá permitir a modernização da linha do Oeste e constituir um forte apoio à sua modernização”. A modernização é, de resto, apontada como uma das “acções prioritárias” da tutela, devendo ficar definida aquando da conclusão do Plano Estratégico da linha do Oeste até 2007. No requerimento enviado ao gabinete de Mário Lino, Feliciano Barreiras Duarte dava ainda conta do receio das populações do concelho de Alcobaça face ao traçado pensado para a linha de Alta Velocidade entre Alenquer e Pombal, recuperando os protestos realizados até agora tanto pelos moradores como pela autarquia. Referindo que “todas as alternativas de traçado estudadas, servindo Leiria, passam a poente das Serras de Aire e Candeeiros, na zona da Benedita”, o ministério das Obras Públicas garante que “a minimização dos impactes negativos foi conseguida, quer através de soluções de engenharia consideradas adequadas, quer através da implementação de medidas” que se prendem sobretudo com a minimização do efeito barreira, a atenuação do ruído, a protecção de espécies ou ecossistemas e a preservação do património. O anúncio da articulação entre as estações da linha do Oeste e de alta velocidade surge no dia em que foi finalmente emitida pelo secretário de Estado do Ambiente a Declaração de Impacte Ambiental referente aos traçados propostos para a ligação em alta velocidade entre Alenquer e Pombal. Esperada desde o passado dia 24, a declaração define quais os traçados ambientalmente mais favoráveis para o TGV.



Sem novo traçado a linha do Oeste não será uma via para o séc. XXI


Não têm conta as inúmeras promessas do PS e do PSD para a modernização da linha do Oeste, logo esquecidas quando um dos partidos chega ao governo. As discussões em torno deste tema, os ataques da oposição e o silêncio e desculpas esfarrapadas da situação já fazem parte desde há décadas do folclore político do bloco central oestino.
Com a morte da Ota parece que surge uma ténue luz ao fundo do túnel para que a modernização da linha do Oeste seja embrulhada no pacote de contrapartidas do governo para a região. Ainda assim, não surpreenderia que esta obra ficasse mais uma vez adiada pois as promessas já foram tantas...

Importa, contudo, saber que tipo de modernização é que se pretende? Qual o tipo de linha férrea que deverá servir o Oeste no século XXI e qual o tipo de serviços que esta deve prestar?
Muitos autarcas e responsáveis políticos clamam o chavão da “modernização, duplicação, electrificação” sem cuidar de saber o que tal significa. A maioria, de resto, não faz tenções de viajar de comboio nem acredita que nada possa ser mais prático do que o seu automóvel na A8 a caminho de Lisboa.

E têm alguma razão.
O projecto que a Refer tem em mãos e que em breve será entregue ao Ministério das Obras Públicas e Transportes não prevê a electrificação da linha do Oeste. O documento é basicamente o que o vice-presidente daquela empresa defendeu no Congresso do Oeste, em Alcobaça, no ano passado – limita-se à introduzir sinalização automática na linha para aumentar a fluidez do tráfego e remete para a CP maiores responsabilidades na redução do tempo de recurso através de comboios novos.

É certo que há hoje material a diesel mais eficiente do que há 20 anos quando se falava na modernização das linhas férreas. Mas com ou sem electrificação, não é com o actual traçado que a linha do Oeste pode servir a região. Ir de comboio para Lisboa pela Malveira e pelo Cacém é uma volta demasiado grande que jamais poderá competir com a auto-estrada que chega à capital através de Loures.

A modernização que está prevista poderá reduzir o tempo de percurso entre as Caldas e Lisboa das actuais duas horas para uma hora e meia. Mas nunca será competitiva com a auto-estrada.
Nem mesmo com comboios modernos e confortáveis, o modo ferroviário poderá competir com o rodoviário neste eixo porque, embora possa ganhar algum mercado, as pessoas valorizam o tempo e a A8 continuará a ser a melhor alternativa.
Só uma solução que encurte a distância para Lisboa poderá fazer da linha do Oeste essa alternativa para o século XXI.

Por isso, os oestinos devem exigir uma nova linha em diagonal que, a partir do Bombarral chegue ao Carregado, ou da Malveira chegue à estação do Oriente (que terá também o TGV), a fim de colocar o Oeste em linha recta com Lisboa (e já agora o aeroporto de Alcochete).
Os preços do combustível e o pagamento da emissão de CO2, as questões ambientais, o congestionamento das redes viárias (que sempre se procura resolver construindo mais estradas), os acidentes rodoviários, aí estão para mostrar que o caminho-de-ferro é o transporte deste século. Mas não é com uma modernização do séc. XX que a linha do Oeste responderá às necessidades do séc. XXI.

in Gazeta das Caldas, Sexta-feira, 18 Janeiro de 2008

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