"Os grandes projectos públicos são de justificação duvidosa, mesmo que não existisse endividamento exterior". Foram estas as palavras de Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças de José Sócrates, numa sessão de debate esta segunda-feira sobre "A crise Financeira e As Grandes Obras Públicas", promovida pela Sociedade de Geografia de Lisboa e pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário (ADFER).
Para Campos e Cunha, "mais endividamento externo só se pode justificar se for para financiar projectos com elevada rentabilidade". Além disso, o antigo ministro referiu que os grandes projectos públicos ao recorrerem ao financiamento, podem deixar o resto da economia sem crédito. Acresce ainda que "todos os portugueses que tenham empréstimos à banca passarão a pagar mais, porque os grandes projectos públicos fazem subir os spreads", apontou.
Também Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças, destacou a necessidade de se repensarem as grandes obras. "A sociedade civil tem que pressionar o governo a fazer análises de custo-benefício, a definir prioridades e calendários", defendeu, apontando que existem pequenas obras que são mais prioritárias do que os grandes projectos anunciados pelo Executivo.
Para Catroga, o investimento, público ou privado, tem de contribuir para "aumentar o potencial produtivo do país, criar emprego sustentado na economia e contribuir para o controlo do endividamento externo", o que em muitas das infra-estruturas previstas não acontece.
A ADFER deixou também a sua posição, pela voz de Arménio Matias, presidente daquela associação, que referiu que querem que a rede ferroviária seja melhorada, mas não "a qualquer custo", exemplificando com a linha da Beira Baixa "que não terá procura que o justifique". "Se esta crise financeira obrigar o Governo a repensar [os grandes projectos], o futuro não estará perdido", constatou Arménio Matias.
in:http://www.cargoedicoes.pt/news/n_476.html
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