domingo, 28 de setembro de 2008

Entrevista a Bagão Félix

"Penso que neste momento o Governo deveria repensar algumas obras”



Na sequência da presença na Feira do Livro de Barcelos do ex-ministro do Trabalho e da Segurança Social, o Cávado Jornal foi ouvir o antigo governante sobre a actual situação social do país. Bagão Félix considera que Portugal está muito endividado, que a situação económica é difícil e vai continuar. Por isso e à semelhança da actual líder do PSD, diz que o Governo deveria repensar alguns investimentos concretamente no TGV. Classifica os apoios sociais anunciados pelo Governo de “generosos” mas que são medidas que a prazo gerarão injustiças sociais.


Cávado Jornal: Como avalia a situação social que Portugal atravessa?

Bagão Félix: A situação é complicada, é difícil e vai continuar a ser. Evidentemente que há razões de fundo e de conjuntura internacional que são evidentes; o preço da energia, o preço dos bens alimentares, a crise porque está a passar a Espanha que é o nosso principal parceiro comercial. Tudo isso leva a que tenhamos que, por um lado, acautelar aspectos relacionados com o endividamento. O país está muito endividado. Normalmente em Portugal a questão do défice reduz-se ao das contas públicas. O défice mais preocupante do nosso país não é o das contas públicas, é o défice externo. O endividamento dos bancos, das empresas, das famílias face ao exterior. E até é nessa perspectiva que a questão das obras públicas mais importantes se deve colocar. Neste momento, uma obra pública além dessas como o TGV e o aeroporto são muito importantes sem dúvida mas tem que se analisar muito bem a sua relação custo/benefício, sobretudo porque parte dessas obras ainda vão endividar mais o país.

Cávado Jornal: É uma posição muito semelhante à da nova Presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite…


Bagão Félix: Acho que num momento destes é preciso pelo menos repensar algumas obras. E o aviso da Dra. Manuela Ferreira Leite nesse sentido é correcto. Repensar e reponderar. As circunstâncias em que há 4 ou 5 anos foram pensados um conjunto de investimentos são hoje muito diferentes. O mundo atravessa um problema muito grave e muito difícil.


Cávado jornal: Refere-se a algum investimento em concreto?

Bagão Félix: Por exemplo, existe um investimento que eu acho que não faz qualquer sentido que é o TGV Lisboa/ Porto para chegar 15 minutos mais cedo e depois, como nós não somos pontuais chegamos meia hora atrasos. Não faz nenhum sentido gastar milhões e milhões entre Lisboa e Porto. Ainda por cima o TGV é um comboio de alta velocidade para transporte de pessoas e não para mercadorias. Não faz sentido nenhum. Mesmo Lisboa/Madrid, todos os estudos provam que não tem rentabilidade porque tinha de ter um conjunto de milhões de pessoas que nunca atingirá seguramente. Depois provoca aquilo que eu chamo “o efeito íman” que é o forte a puxar o fraco. Num TGV entre Lisboa e Madrid o que vai acontecer é que muitas empresas vão-se deslocalizar de Lisboa para Madrid. Aliás, nós temos grandes exemplos de desenvolvimento como é o caso da Irlanda e como sabe, a Irlanda não tem quase auto-estradas. Apostou na qualificação das pessoas. Portugal é o único país da União Europeia que se dá ao luxo de ter duas auto-estradas entre as duas principais cidades do país. “Andamos muitas vezes de smoking quando deveríamos andar mais humildemente vestidos”. “Medidas sociais anunciadas pelo Governo são generosas”

Cávado Jornal: Como antigo ministro da Segurança Social, como vê as novas medidas anunciadas por este Governo?

Bagão Félix: Em primeiro lugar são medidas generosas. Tudo que seja apoiar famílias no sentido da diferenciação de beneficiar quem mais precisa, acho que é correctíssimo. O problema, em meu entender é que quando se inicia um processo destes nunca se sabe quando é que ele acaba e torna todo o sistema incoerente. O Governo teima em não reduzir os impostos sobre os combustíveis. Pessoalmente, acho que o imposto sobre os produtos petrolíferos acho que não deve ser reduzido. Agora, parece-me relativamente imoral que nós estejamos a pagar mais sobre os combustíveis e o Estado receba mais IVA sobre os combustíveis. O IVA aumenta na medida em que aumenta a matéria - prima. Não faz sentido. É imoral. Portanto, o IVA não deveria aumentar mais. Acontece que não se fazendo isso, o Governo vai aceitando, com melhor ou pior vontade, os resultados das contestações dos grupos organizados. Quem fica de fora são aqueles que infelizmente não tem poder reivindicativo. Os pensionistas, os reformados, os pequenos e médios empresários, etc. E portanto, aquilo que são medidas generosas do ponto de vista social acabam por ser medidas que a prazo gerarão injustiças sociais.

Cávado Jornal: Que análise faz da entrevista dada pelo Primeiro-ministro à RTP?


Bagão Félix: No que respeita às medidas anunciadas penso que são pequenos remendos. Generosos mas parcelares e que perdem coerência a prazo.


Autor: Cávado Jornal - Fonte: interna - Quarta-feira, 09 de Julho de 2008 - 09:17:07
http://www.cavadojornal.com/index.php?zona=ntc&tema=1&lng=pt&pgn=42&id=992

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A IMPROVÁVEL ESTAÇÃO DO TGV EM RIO MAIOR






Lisboa, 22 de Setembro 2008



Ex.mo Senhor Bastonário da Ordem dos Engenheiros,


Envio a seguir cópia de um artigo que publiquei no jornal 'O Ribatejo', na passada 5ª feira, em que referi a quase impossibilidade do futuro comboio para o Porto à saída de Lisboa seguir pelo Vale do Trancão, e exprimi a esperança de que a Ordem dos Engenheiros se venha a interessar pelo assunto.

Penso que é um problema que põe em causa o prestígio da Engenharia portuguesa.

Envio este email em simultâneo para algumas centenas de organismos e individualidades que penso poderem interessarem-se pelo assunto e contribuírem para que ele seja de facto discutido.





Com os meus melhores cumprimentos

António Brotas

Membro 5757 da Ordem dos Engenheiros

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A IMPROVÁVEL ESTAÇÃO DO TGV EM RIO MAIOR


Os jornais noticiaram, com base em informações da RAVE e da REFER, que iria ser construída em Rio Maior uma estação para comboios TGV .

Penso que esta estação nunca virá a ser construída pelas razões que a seguir passo a expor, e que aqui deixo como elementos de um debate sobre os Caminhos de Ferro que me parece urgente iniciar no distrito.

Em Agosto de 2005 a RAVE adjudicou a um consórcio, por 4,3 milhões de euros, o estudo de um troço de Pombal a Alenquer, com uma estação na Ota, da futura linha do Porto a Lisboa, destinada a comboios TGV de bitola europeia, sem ainda saber como é que esta linha entraria em Lisboa.

A avaliação ambiental deste projecto não chegou, no entanto, a ser feita, porque teria de ser feita em conjunto com a avaliação ambiental do projecto do aeroporto da Ota, que nunca passou de um vago esboço.

O estudo feito revelou, no entanto, desde logo, o inconveniente do trajecto proposto obrigar, na passagem entre as serras de Montejunto e dos Candeeiros, a declives demasiado elevados que o tornavam inconveniente para o trânsito de comboios de mercadorias.

Posteriormente, as populações dos concelhos de Alcobaça e da Batalha aperceberam-se, também, de que a passagem dos TGV's nos seus concelhos lhes trariam significativos inconvenientes. A grande incógnita continuou, no entanto, a ser a de como é que a futura linha entraria em Lisboa, o que poderia obrigar a custos elevadíssimos.

O que a RAVE agora aparentemente propõe é que o referido estudo (que tivemos de pagar) em vez de ser posto de lado, seja remodelado (o que obriga a novas despesas) para ter uma estação em Rio Maior em vez de na Ota. Assim, a RAVE que se dispôs a construir uma linha com inconvenientes e custos elevadíssimos para fazer passar os TGVs no aeroporto da Ota, dispõem-se a fazer uma linha, com os mesmos inconvenientes e os mesmos custos, para fazer passar os TGV's numa estação em Rio Maior.

O problema relaciona-se com o da TTT, terceira travessia ferroviária do Tejo. A decisão sobre a TTT não pode, obviamente, ser tomada sem, simultaneamente, ser decidida a saída de Lisboa da futura linha de bitola europeia para o Porto , que será a mais importante linha ferroviária portuguesa.

Tem sido anunciada a construção de uma ponte para o Barreiro destinada aos comboios para Badajoz, para o Algarve, e para a navetes para o novo aeroporto, mas não para os comboios para o Porto, e foi igualmente anunciado que o Arquitecto Calatrava já foi contratado para ampliar a gare do Oriente de modo a ela poderem chegar os comboios vindos de Badajoz e dela partirem os comboios para o Porto.

Mas, como seguirão para o Porto estes comboios saídos da Gare da Oriente? A proposta da Secretaria de Estado dos Transportes, da RAVE e da REFER parece ser a de que, à saída de Lisboa, estes comboios sigam pelo vale do Trancão. Ora, qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos de Topografia que olhe a carta topográfica 1/50.000 editada pelo Instituto Geográfico Cadastral vê, imediatamente, que este trajecto teria custos gigantescos.

Até agora, a RAVE e a REFER não tiveram a coragem de divulgar, nos seus site, o trajecto em que pensam desenhado numa carta com curvas de nível. Espero que a Ordem dos Engenheiros se venha a interessar por este assunto. Penso, no entanto, desde já, que o projecto conjunto da ponte para o Barreiro, ampliação da gare do Oriente, saída dos comboios para o Porto pelo vale do Trancão, passagem perto de Alenquer e estação em Rio Maior, passagem por entre as serras de Montejunto e Candeeiros e pelos concelhos de Alcobaça e Batalha, não é realizável por ter vários inconvenientes e custos absolutamente inaceitáveis.

Há outras soluções a estudar e, felizmente, não temos de tomar uma decisão imediata. O que temos de evitar são decisões precipitadas e soluções insuficientemente estudadas.
Entre as soluções que já foram apontadas, há a da travessia ferroviária do Tejo ser feita na direcção do Montijo, podendo neste caso servir para os comboios para o Porto, e ainda, as soluções, incomparavelmente mais baratas, da travessia ser feita um pouco acima ou abaixo de Alverca.

Em todos estes casos, a nova linha para o Porto seguirá pela margem Esquerda do Tejo, talvez, até perto da Chamusca. Faço notar que, neste caso, a nova estação de Santarém será na margem Sul, a vocação ferroviária do Entroncamento poderá ser mantida e poderá, talvez , ser evitada a duplicação da linha do Norte a Oeste de Santarém. O distrito de Santarém é, assim, o distrito em que o futuro ferroviário mais depende das escolhas que vierem a ser feitas. Parece-me uma razão mais do que suficiente para os seus cidadãos se interessarem pelo assunto.

António Brotas Professor Jubilado do IST

domingo, 21 de setembro de 2008

Afinal ainda há mais uma...........


Rio Maior vai ter uma estação ferroviária de alta velocidade (TGV) e não um apeadeiro, para servir a região do Oeste.

A decisão foi confirmada na segunda-feira pela secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.

O vereador do PS na Câmara Municipal de Alcobaça, Daniel Adrião, vê o equipamento como uma forte contribuição para o crescimento económico do concelho já que a Estação ficará a sensivelmente a 10 minutos da Benedita, a maior freguesia do concelho de Alcobaça.

Para Daniel Adrião os benefícios da proximidade das futuras estações do TGV, em Rio Maior (Asseisseira) e Leiria (Barosa), prova que os contestatários estavam errados quanto ao investimento da administração central pelo que, aconselha o socialista, "os movimentos devem retratar-se, pedindo mesmo desculpa aos alcobacenses".

Na resposta, Noémia Rodrigues, do movimento ATAC (Amigos da Terra por Amor à Camisola) diz que não tem de pedir desculpa por estar convencida que o TGV irá destruir locais de relevo ambiental e patrimonial de Alcobaça.

Já Paulo Inácio, o primeiro signatário da petição “TGV a Oeste da Serra dos Candeeiros Não”, afirma que quem deveria pedir desculpas é Daniel Adrião por não estar a defender os interesses de Alcobaça, mas sim os do Governo de José Sócrates, para quem trabalha.

2008-09-17
in:http://www.cister.fm/index.php

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Rio Maior: Estação do TGV Regional .....

Rio Maior: Estação do TGV

A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, confirmou ontem que Rio Maior vai ter uma estação ferroviária de alta velocidade (TGV) e não apeadeiro, para servir a região do Oeste. A decisão foi tomada na sequência de um acordo de cooperação entre o Governo e 16 autarquias do Oeste e Lezíria do Tejo.

16 Setembro 2008 - 01h53 - Correio da Manhã

http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentid=E7C2FDE3-DFA2-4D6B-B345-904BAD20E72A&channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021



COMENTÁRIOS

16 Setembro 2008 - 12h20 samy
Concordo plenamente com JC, nao tem logica nenhuma o TGV parar em rio maior!Isto tanto anda que vamos ficar com um TGV SubUrbano em que para em todas as estaçoes e apiadeiros!

16 Setembro 2008 - 12h19 Reb
Mas com que critério se decide a existência de uma estação ? Como é que esta matéria - principalmente técnica - está dependente de acordos com autarquias ? Façam-se primeiro os estudos ( de localização; de rentabilidade; ... ) e negoceie-se depois.

16 Setembro 2008 - 12h17 AQ
Cada vez gosto mais do nosso pais. Da Gare do Oriente a Rio Maior por estrada são aprox. 76Km com o TGV leva +/- 10 Km para atingir a velocidade maxima e 10 para parar., temos 50 km a brincar. Vão ao site a nossa visinha RENFE e para verem como é lá.

16 Setembro 2008 - 10h13 JC
Arranco de Lisboa e paro logo em Rio Maior? Que gente esta não sabem o que dizem nem o que fazem, então não lhe chamem TGV, mas sim TGL, mais uma vez se vê como somos governados.

sábado, 6 de setembro de 2008

O GIGANTISMO DAS OBRAS PUBLICAS ...


Obras públicas deterioram relações entre Cavaco Silva e José Sócrates

06.07.2008, Luciano Alvarez


O Presidente acha que é preciso repensar tudo em matéria de obras públicas. O primeiro-ministro insiste em levá-las por diante. A cooperação estratégica está ameaçada de morte.

Cavaco Silva não está satisfeito com a chamada cooperação estratégica entre o Governo e a Presidência da República e as várias declarações que fez ao longo da última sexta-feira foram, acima de tudo, alertas a José Sócrates para a insatisfação do Chefe de Estado com alguns comportamentos políticos do primeiro-ministro. E a matéria que está a contribuir para esta deterioração das relações não podia ser mais delicada: obras públicas.

O actual Presidente da República não diz nada por acaso. E não foi por acaso que escolheu o dia seguinte à entrevista do primeiro-ministro à RTP para falar de obras públicas, dando o exemplo de uma autarquia que pedia pequenas obras em vez de grandes investimentos.
Mais tarde, alertou para a "difícil situação" do país e para o facto de o "endividamento poder atingir situações insustentáveis".
Como se não bastasse, ontem o semanário “Sol” noticiava que o Chefe de Estado pediu há dois meses informações ao primeiro-ministro sobre os estudos financeiros das novas concessões rodoviárias e até agora não obteve qualquer resposta.

O PÚBLICO confirmou esta informação e sabe que é com surpresa e apreensão que Cavaco Silva vê serem anunciadas sucessivamente novas obras, numa altura em que o país, como salientou o Presidente, está numa "situação difícil". Aliás, a divulgação desta negação do Governo em prestar informações ao Presidente da República é um sinal claro da insatisfação de Cavaco Silva. Em Belém nada acontece por acaso.
"Todos nós gostaríamos que o desempenho [económico do país] fosse melhor.
Vivemos uma situação de afastamento do desenvolvimento médio da União Europeia há anos, mas temos alguma esperança que no futuro a situação será diferente. (???..)É preciso trabalho, muito trabalho, políticas correctas, muito correctas", referiu Cavaco Silva, em Fronteira, no distrito de Portalegre, na sexta-feira.

O PÚBLICO sabe que o Chefe de Estado fartou-se de esperar por informações que o Governo não lhe dá sobre os custos das novas estradas e resolveu passar à acção.
Fê-lo de uma forma subtil, mas muito clara.
Foi buscar o exemplo dos membros da Assembleia Municipal de Portalegre o terem alertado para a necessidade de construção de duas vulgares estradas, em vez de pedirem auto-estradas, para lançar uma clara mensagem ao Governo:

"Apenas solicitaram vias de comunicação que têm um custo relativamente pequeno quando comparado com obras muito avultadas que têm vindo a ser anunciadas no nosso país.... determinados pequenos investimentos têm uma rentabilidade muito mais elevada do que grandes investimentos.
"Com isto, Cavaco Silva quis claramente dizer que o Governo tem de repensar os cerca de 3000 quilómetros de rodovias, a maioria sem portagens, que vai concessionar a privados e que ainda não revelou quais serão os encargos para o Estado.


Dúvidas com o TGV.


O Chefe de Estado tem também dúvidas em relação ao projecto TGV, numa altura em que o país vive uma difícil situação económica.
Tal como ontem lembrava o “Sol”, há dois anos, numa viagem que fez entre Lisboa e Albufeira, Cavaco Silva alertou para a necessidade de se fazer "uma profunda análise custo/beneficio" dos grandes investimentos públicos.
Na altura, ainda que indirectamente, o Chefe de Estado referia-se ao TGV.

Hoje, o Presidente volta ao assunto mas visa as obras públicas em geral. Todas.

O PÚBLICO sabe que Cavaco tem muitas reservas sobre as obras, que também têm sido o cavalo-de-batalha de Ferreira Leite desde que foi eleita líder do PSD, enquanto o Governo insiste diariamente na realização dessas obras, o que faz adivinhar dias mais difíceis nas relações dos inquilinos de Belém e São Bento.
Até porque Cavaco Silva entende que uma das suas principais funções como Presidente da República é cumprir o seu dever de fiscalização e acha, segundo o PÚLICO apurou, que, em matéria de obras públicas, o Governo não lhe está a fornecer os dados para efectuar de uma forma correcta esse seu dever de fiscalização.

Pouca terra

“O que leva o Governo de um país pobre a insistir em endividar as próximas dez gerações que vão pagar o TGV?”

Parto de Lisboa para o Algarve de comboio, mais precisamente no conforto eficiente do Alfa-Pendular. Ao chegar ao meu destino exactamente duas horas e meia depois, embalada pelos 220 km/hora, pergunto-me o que levará o Governo de um país pobre e altamente endividado a insistir em endividar as próximas dez gerações de portugueses que terão de pagar o TGV que chega aos 300 km/hora. O traçado Lisboa-Madrid, ainda vá: é o compromisso internacional, é o ambiente, é o petróleo, é… enfim. Mas o custo/benefício de poupar 15 minutos no Lisboa-Porto, e ligar Porto a Vigo em alta velocidade, só poderá ser encontrado com a ajuda de ciências do oculto.
Em contrapartida, não será necessária qualquer ajuda de tecnologia portuguesa, pois todo o material circulante será 100% estrangeiro. Ficamos com a mão de-obra. Mais. Um estudo encomendado pelo Parlamento Europeu (PE) já avisou que o traçado do TGV terá uma derrapagem de 40,6% em relação ao custo previsto, devido a "problemas de gestão dos projectos, na planificação, na falta de financiamentos e atrasos". A sério!? Derrapagem? Problemas de planificação? Era preciso explicar ao PE que não vale a pena gastar dinheiro nesses estudos, ou não fosse "a derrapagem" a maior obra pública de Portugal. Como se viu esta semana no lançamento dos concursos para 6 novos lanços de estrada, começamos logo a derrapar: o custo calculado era de 1.800 milhões de euros, mas a proposta mais baixa já "derrapa" 40% em relação a essa estimativa. Assim, de repente, e sem nenhum estudo do PE, atrevo-me a fazer 3 apostas: que a derrapagem andará pelos 100%; que serão necessárias reparações um ano depois de concluída a obra; e que nunca serão apuradas responsabilidades.
Voltando ao TGV, o Governo vai embrulhar a conversa em papel de seda, dizendo que é tudo pago por privados e pela Europa, e, uma vez mais, arrisco-me a apostar que nunca vamos perceber quem é responsável pelos atrasos, erros e, obviamente, derrapagens em relação à estimativa actual de 11 000 milhões de euros. Nem o vamos saber até ao fim da obra, pois durante o período de construção os custos do investimento não entram no Orçamento do Estado. Só a partir da exploração, prevista para 2015, é que começamos a pagar a factura, até lá desconhecida, mas certamente a somar às "suaves" prestações de 1.000 milhões de euros/ano por essas grandes apostas chamadas SCUT, Estádios do Euro’2004 e juros bonificados do crédito jovem.

Teresa Caeiro

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda a CCDR-C......


CCDRC: Funcionária advertida para perda de estatuto que, afinal, não possui

Um vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) terá advertido uma funcionária que a exonerava de um suposto cargo por ela, alegadamente, se ter escusado a emitir um parecer que ele julgava pertinente, soube o “Campeão”. Imediatamente antes do fecho desta edição, o nosso Jornal tentou ouvir o referido vice- presidente da CCDRC, mas o mesmo encontrava-se em serviço externo. A funcionária visada declinou prestar declarações. A advertência terá sido proferida por o dirigente discordar do teor de um parecer da referida funcionária contrário ao destacamento da Reserva Ecológica Nacional de um terreno sito num município da Bairrada. A intimação do referido vice-presidente da CCDRC era inexequível, na medida em que a funcionária em causa não exerce qualquer cargo de chefia. O responsável terá tido ainda conduta semelhante em assunto relacionado com a apreciação das propostas de traçado do TGV, entre Alcobaça e Pombal. A discordância dos pareceres emitidos por dois técnicos superiores daquele organismo sobre as propostas de traçado da Rede de Alta Velocidade, terá estado na origem de alegadas pressões para que alterassem o sentido da apreciação. A recusa dos dois funcionários, no sentido de alterarem o parecer negativo que, a confirmar-se, conduziria à inviabilização dos traçados pretendidos para pela Rede de Alta Velocidade (RAVE), afigura-se ainda como possível justificação para o seu afastamento dos cargos que desempenhavam, poucos dias depois do documento ter sido aprovado pelos responsáveis máximos da CCDRC e enviado para a Agência Portuguesa do Ambiente, em Lisboa.