domingo, 24 de fevereiro de 2008

Reavaliação do aeroporto chega à travessia e ao TGV


Primeiro foi o aeroporto. Agora é a terceira travessia do Tejo (TTT) em Lisboa e mais tarde pode ser a rede de alta velocidade ferroviária (TGV).

A contestação e o reequacionar dos grandes investimentos públicos terá como consequência o adiamento da execução dos três projectos emblemáticos, orçados em mais de 11 mil milhões de euros, para a próxima legislatura, ainda que existam concursos lançados e decididos até 2009.Em Julho de 2005, o aeroporto e o TGV eram os grandes projectos públicos do PIIP (Plano de Investimentos em Infra-Estruturas Prioritárias), apresentado pelo primeiro- -ministro, José Sócrates, num pacote que procurava contrariar medidas mais duras decididas para controlar o défice público, como a subida de impostos.

Os investimentos públicos e privados, de 25 mil milhões de euros, eram para ser realizados até 2009. O aeroporto, então na Ota, e o TGV foram desde logo os polémicos, levando mesmo à saída do ministro das Finanças, Campos e Cunha. Apesar de a sua conclusão ultrapassar o horizonte da legislatura, previa-se que até 2009 fossem investidos 650 milhões de euros no aeroporto e 1500 milhões de euros na rede de TGV. Mas, para já e até ao final do ano, o investimento limita-se a estudos e projectos.

A derrapagem para depois das eleições legislativas do início da construção do novo aeroporto de Lisboa, agora no Campo de Tiro de Alcochete, é já uma certeza para o presidente da Associação das Empresas de Construção e Obras Públicas (Aecops). Sobretudo se se mantiver o modelo de negócio que associava um concurso internacional para a privatização da ANA - Aeroportos de Portugal, sublinha Ricardo Pedrosa Gomes. O calendário também já está apertado na travessia do Tejo. Mesmo que a escolha seja Chelas/Barreiro, a opção mais avançada, a renegociação com a Lusoponte, concessionária das pontes Vasco da Gama e 25 de Abril, pode arrastar este dossier. A alta velocidade deveria estar no terreno este ano.
O primeiro concurso está previsto para Julho. O presidente da Aecops diz que ainda é possível iniciar obra na actual legislatura no TGV e na ponte, se não houver mudança do corredor da travessia, o que atrasaria em três a quatro anos a ligação Lisboa/Madrid, inviabilizando a data de 2013.

Apesar de já ter impacto ambiental aprovado, a linha Lisboa/Porto também levanta dúvidas. É que a transferência do aeroporto da Ota para sul implica a perda de um tráfego que era muito importante para esta ligação. "Tenho dúvidas de que haja um grande interesse dos privados nesta linha. É que o investimento é muito alto e o retorno será uma incógnita."

A energia eólica, a banda larga e as concessões rodoviárias eram outros projectos de dimensão dos PIIP. Apesar de terem avançado, a sua execução tem revelado, em alguns casos, atrasos que decorrem da morosidade de processos de decisão e licenciamento, como é o caso das eólicas.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

RAVE Exerce Pressão sobre o Ministério do Ambiente

Construção deve preparar-se para o desafio do TGV


"Do ponto de vista da RAVE-Rede Ferroviária de Alta Velocidade, o TGV é um projecto extraordinariamente interessante para o País" e que foi concebido "de forma a que possa ser atractivo, pelo que os agentes do sector da Construção "devem preparar-se para responderem a este desafio", referiu Carlos Fernandes em entrevista ao "Jornal da Construção".Embora "as conversas que vamos mantendo com os players nacionais nos dêem uma ideia clara que o mercado está, de facto, a agrupar-se e a preparar-se para responder a este desafio", é preciso ter em conta que, "de certa forma, não tem havido muita experiência de construção ferroviária em larga escala nos últimos anos, pelo que é necessário algum trabalho de preparação", acrescentou. Já no que concerne ao modelo escolhido para a execução e desenvolvimento da rede, as PPP (Parcerias Público-Privadas), Carlos Fernandes considera que "a indústria portuguesa está claramente apta para reagir".

Os grandes objectivos da RAVE, a curto e médio prazos, são a definição dos traçados e a apresentação ao Ministério do Ambiente e ao Governo, respectivamente, dos estudos de impacte ambiental e do modelo de negócio, etapas estas que "estão, em grande parte, concluídas", referiu. Já foram, mesmo, submetidos ao Ministério do Ambiente "cerca de 300 km de traçado e decorreu recentemente o processo de consulta pública do primeiro troço, de 110 km, do eixo Lisboa-Porto". No que concerne ao eixo Lisboa-Madrid, e à excepção da ponte, "também ele está totalmente entregue na tutela do Ambiente, o que significa que esta parte do processo está a decorrer conforme o previsto", referiu o administrador da RAVE.Primeiro concurso em JunhoQuanto a concursos, "o definido no calendário passa pelo lançamento de um primeiro concurso para a ligação do Poceirão à fronteira com Espanha, em Junho de 2008, e de um segundo, que respeita ao restante traçado do eixo Lisboa-Madrid, ou seja, desde a capital até ao Poceirão, incluindo a nova travessia do Tejo, até ao final do próximo ano".Segundo Carlos Fernandes, e para que seja possível cumprir esta calendarização, "temos que concluir, quanto antes, os respectivos processos de avaliação ambiental e o modelo de negócio, para que o Governo os possa aprovar". Neste âmbito, "a RAVE está a desenvolver as especificações técnicas e de engenharia para os documentos de concurso, nomeadamente, as que os parceiros privados vão ser obrigados a cumprir", o que significa que "está tudo a correr de acordo com o calendário".A construção de uma rede ferroviária de alta velocidade representa um desafio mas, "em termos de engenharia e tendo em conta a capacidade nacional, não existe nenhum problema particularmente complicado de resolver", referiu.

Um dos maiores desafios será, provavelmente, a nova ponte sobre o Tejo, no corredor Chelas-Barreiro, "uma obra de engenharia marcante que, segundo o previsto, terá quatro linhas, duas para a alta velocidade e duas para a ferrovia convencional e que poderá ainda englobar o modo rodoviário, se o Governo assim o decidir".No que respeita à alta velocidade, a ponte servirá a ligação Lisboa-Madrid e, do lado convencional, "fechará o anel suburbano para a Margem Sul, nomeadamente, o Barreiro, Seixal e Setúbal, que ficará a cerca de 25 minutos de Lisboa, contra os 55 minutos actuais". De igual forma, salientou Carlos Fernandes, "a ligação de Lisboa ao Algarve, conjuntamente com o investimento que a Refer está a fazer nesta linha, será fortemente beneficiada, ao mesmo tempo que poderemos eliminar as restrições de capacidade de composições de mercadorias que existem actualmente na Ponte 25 de Abril".
Por decidir está ainda a localização definitiva da estação do TGV em Lisboa: Estação do Oriente ou Chelas. Embora, "ao longo do último ano e meio, a posição e o discurso da RAVE seja de preferência pela Estação do Oriente, tendo em conta os objectivos com que ela foi concebida", "desenvolveu-se um conjunto de estudos para avaliar a viabilidade técnica e financeira" de cada uma das alternativas. A ponderação sobre estas duas localizações não pode ser feita com base unicamente na análise financeira, "temos que considerar aspectos como as acessibilidades, por exemplo", explicou Carlos Fernandes, acrescentando que a opção pela Estação do Oriente "parece-nos, contudo, mais interessante do ponto de vista financeiro, até porque é uma obra emblemática de Lisboa e poder potenciá-la, acrescendo a alta velocidade ao uso convencional que já tem, seria muito interessante".A escolha da estação do TGV de Lisboa condicionará também os acessos da nova ponte na Margem Norte, "situações estas que estão previstas", com as ligações a serem feitas, nomeadamente, "através da Linha de Cintura".
A situação está acautelada também no que respeita ao território, "uma vez que o Governo fez já publicar a reserva de canal para a ponte, prevendo as duas possibilidades".Possibilidades para o novo aeroportoO futuro aeroporto de Lisboa é outra questão a considerar no traçado do TGV. Segundo Carlos Fernandes, "a RAVE tem que estudar soluções que permitam articular o TGV com os principais modos de transporte e, obviamente, com os grandes geradores de tráfego que são os aeroportos, facilitando o trabalho destes e da alta velocidade na sua principal função, a de ligar cidades".Quando se definiu o traçado do TGV no que concerne ao eixo Lisboa-Porto, "a solução que existia para o aeroporto era a da Ota, para onde foi prevista uma estação, que praticamente atravessa a infra-estrutura aeroportuária".
O traçado "mais interessante para ligar Lisboa ao Porto é sempre neste eixo, via Ota, o que significa que se o aeroporto for mudado, não existirá aqui uma estação". No entanto, e para contemplar outra localização do futuro aeroporto, "serão feitos acertos ao traçado, sem que isso cause grandes problemas".Caso a opção do Governo vá para Alcochete, "temos as alternativas do Poceirão ou do campo de tiro, e poderemos articular a alta velocidade com o aeroporto em "bypass" ou em ramal", uma alteração que não será significativa "para o cômputo geral do projecto do TGV".Questionado sobre a eventualidade da decisão governamental quanto ao novo aeroporto poder causar atrasos à alta velocidade, Carlos Fernandes referiu que "tal não irá acontecer, dada a nossa calendarização". No entanto, a possibilidade de surgirem alguns atrasos na implementação do TGV está contemplada. "Imaginemos que o troço da terceira travessia do Tejo, por ser uma obra muito grande, atrasava seis meses em relação ao troço em que se insere", extrapolou Carlos Fernandes. Numa situação destas, "é perfeitamente possível termos o traçado integrado com a actual linha convencional, que já passa no Poceirão, e recorrer a comboios de bitola variável, ou seja, que saem da linha de alta velocidade e entram na convencional, atravessando a Ponte 25 de Abril".
O projecto da alta velocidade "tem características relativamente rígidas quanto ao traçado", pelo que é difícil introduzir alterações, de forma a servir todos os interesses. Uma das situações onde essa dificuldade é mais evidente é nas afectações de terreno, área onde "a RAVE fez levantamentos, praticamente casa a casa, ou seja, de todas as edificações".A questão das expropriações "vai muito para além do aspecto financeiro, tem verdadeiros impactos na vida das pessoas, pelo que procurámos sempre evitá-las". Contudo, acrescentou o administrador da RAVE, "é impossível um cenário ideal, tendo em conta a ocupação que temos do território". Em qualquer que seja o traçado, sublinhou, "têm sempre que existir alternativas". Na zona de Alcobaça, "por exemplo, temos um traçado que passa mais perto do centro da localidade da Benedita, e um segundo que passa claramente fora dos limites urbanos, perto do sopé da Serra dos Candeeiros". Segundo Carlos Fernandes, esta hipótese "é vista com muito bons olhos pelo Ambiente e tem poucas implicações". Esta zona natural tem um regime de protecção especial, "uma área que actualmente tem como fronteira uma estrada nacional e essa delimitação poderá ser mudada para o espaço canal da alta velocidade, por exemplo".No caso do concelho de Alcobaça, "apresentámos uma solução com uma faixa de 40 m para cada lado da linha, que ocupa 14 m, e na qual temos que afectar um total de 17 imóveis, desde habitações até barracões e a maioria deles não será lesada, para além de que este número ainda será reduzido na fase de projecto de execução", referiu. Contudo, a decisão final "pertence sempre ao Ministério do Ambiente".
Túnel nem sempre é opção em termos ambientais, "o projecto é muito favorável", sobretudo, segundo Carlos Fernandes, "quando as expectativas nos dizem que no primeiro ano de funcionamento do eixo Lisboa-Madrid tiraremos da estrada cerca de 3,5 milhões de carros, o que implica não só uma redução das emissões poluentes, como também uma menor possibilidade de acidentes rodoviários". Ou seja, "há, naturalmente, impactos locais, nomeadamente, o ruído, embora a poluição sonora do TGV não seja tão impactante como a do comboio tradicional".A solução com menos impacto seria "seguir em túnel de Lisboa até ao Porto, mas nem sempre o túnel é uma opção a considerar, tendo em conta questões técnicas como a inclinação longitudinal necessária" que, no caso da ligação entre as duas cidades, "é da ordem dos 2,5 por cento e até Madrid ronda os 1,5 por cento", acrescentou.Uma das sugestões "que nos foi avançada para Alcobaça era uma maior aproximação com a Serra dos Candeeiros, mas isso obrigava-nos a entrar em túnel na zona montanhosa, o que significava uma estrutura muito extensa e traria impactos incomportáveis para o projecto".
De igual forma, "para construir um túnel a partir de determinada extensão é necessário edificar outras estruturas, como um segundo túnel paralelo e outro de segurança entre os dois", lembrou Carlos Fernandes, para além "dos custos associados à sua manutenção", factores que podem "encarecer assustadoramente o investimento para o projecto". No que respeita ao eixo Lisboa-Porto, "a extensão total de túneis prevista é inferior a 40 km".Coordenação com EspanhaUma vez que a rede portuguesa está interligada com a espanhola, a cooperação entre os dois países é fundamental e para isso "em 2001 foi criada a AVEP - Alta Velocidade Espanha-Portugal, cujos accionistas são a RAVE e o seu congénere espanhol, o Adif - Administrador de Infraestruturas Ferroviárias e que faz a coordenação dos eixos transfronteiriços", lembrou.No total, os dois países "têm quatro troços de alta velocidade directamente interligados: Porto-Vigo, Lisboa-Madrid, Aveiro-Salamanca e Faro-Huelva", dos quais estão em desenvolvimento os dois primeiros.Cabe à Avep "desenvolver os estudos nos troços transfronteiriços, de ambos os lados, que, no caso do de Porto-Vigo será provavelmente a ponte de ligação, enquanto o de Lisboa-Madrid ocupará cerca de 20 km do lado português e outros tantos do espanhol".
O respectivo concurso "é lançado pela Avep". No que respeita ao lado espanhol, "o modelo é diferente do nosso, sendo por empreitadas e não por PPP, portanto, há já obra no terreno".No que concerne aos eixos que ainda estão em estudo, Aveiro-Salamanca e Faro-Huelva, "as decisões dependem de Espanha, porque faz pouco sentido avançar em Portugal, quando do outro lado da fronteira não existe nada no mesmo estado de evolução", acrescentou Carlos Fernandes.Quando os primeiros eixos da rede portuguesa estiverem ligados à espanhola, poder-se-á viajar até França sempre através da alta velocidade. Para que isso seja possível, "falta apenas o troço entre Barcelona e a fronteira francesa, que deverá entrar em funcionamento em 2009, bem como um lanço de Madrid até à capital catalã, uma vez que o restante percurso entre as duas cidades espanholas já está concluído", afirmou. A França tem, aliás, "uma das maiores redes do mundo e tem previsto, para breve, o lançamento de investimentos da ordem dos 40 biliões de euros, o que representa cinco vezes toda a rede que estamos a preparar". Até agora, a implementação da rede de TGV em França "seguia, tipicamente, os modelos de empreitada", contudo, "as autoridades francesas procederam a uma alteração total do seu modelo de lançamento, tendo em conta as experiências do passado".Infra-estruturas necessáriasQuanto às estações que serão construídas de raiz e as da ferrovia convencional que podem ser aproveitadas, Carlos Fernandes lembrou que, "de acordo com o previsto, no Porto a chegada do TGV será em Campanhã, atravessando a Ponte de S. João, com as necessárias adaptações".
Já em Coimbra, "deverá ser feita uma nova estação, ligeiramente a norte de Coimbra B, que integrará o metro do Mondego, o serviço convencional e a alta velocidade". Em Leiria, "a estação será construída de raiz, a poente da cidade, uma localização defendida pela RAVE e à qual as entidades metropolitanas daquela cidade manifestaram já o seu apoio. Depois de emitida "a declaração de impacte ambiental, vamos desenvolver a articulação com a rede convencional, ou seja, nomeadamente, com a Linha do Oeste, que permitirá criar uma ligação de meia-hora entre Lisboa e Leiria e potenciar os dois serviços".Em Aveiro, "a solução mais viável foi construir uma estação fora da cidade, pois todas as outras alternativas apresentavam custos astronómicos, embora estejamos ainda a ajustar alguns pontos no que concerne à articulação com a rede convencional", já que, conforme concluiu Carlos Fernandes, "a alta velocidade não pode ser uma ilha".

Reflecções Sobre o TGV

Mário Pinto Alves Fernandes Eng.º CivilChefe de Gabinete do Min. Obras Públicas, Transportes e Comunicações (1970/1972);Presidente da JAE (1987/1993)Director do GECAF (Gabinete de Gestão das Obras de Instalação do Caminho-de-Ferro na Ponte sobre o Tejo – 1993/1997)Vogal Cons. Admin. Refer (1997/2001)

1. A rede de caminhos-de-ferro em Portugal data da segunda metade do século XIX, e insere-se no planeamento das grandes vias de comunicação concebidas pelo pensamento de um grande ministro da monarquia, de seu nome António Maria Fontes Pereira de Melo. A sua evolução até hoje é conhecida, quer em termos de rede1, quer em termos de material circulante.
2. Portugal encara a construção de uma rede ferroviária de alta velocidade (TGV). Como precursores desta nova visão do transporte ferroviário, destacam-se os japoneses com o SHINKANSEN desde 1964 e os italianos com os célebres PENDOLINI (pendulares) que, em condições técnicas adequadas da infra-estrutura, conseguem atingir velocidades que se aproximam das atingidas pelo TGV.
No quadro europeu, a Inglaterra, que é a verdadeira pátria dos caminhos-de-ferro, ainda não passou da primeira fase da ligação ferroviária ao túnel do Canal da Mancha. Simultaneamente, a política europeia no sector dos transportes vai no sentido de assegurar a ligação das capitais dos países da União por uma rede de auto-estradas e uma rede ferroviária de alta velocidade, com a disposição de participar nos respectivos custos que são enormes, como se sabe.
3. E Portugal? País periférico que somos, no extremo mais ocidental da Europa, mas com a “virtude” de dispormos de uma frente atlântica, cujas potencialidades nos compete explorar, não poderíamos ficar indiferentes a esta evolução no mundo do transporte ferroviário. A questão é saber em que termos o devemos fazer. E a grande dúvida é ponderar a solução consentânea com a nossa dimensão e posição geográfica, sobretudo a nossa dimensão sócio-económica. O problema reduz-se a duas opções: uma rede nacional de alta velocidade e uma ligação em TGV à Europa (via Madrid) ou, segunda opção, apenas esta última e a modernização e reabilitação apropriada da rede existente, nos traçados mais pertinentes do ponto de vista técnico-económico.
4. Este magno problema possui já, segundo consta, um grande acervo de estudos, os quais têm vindo a desenvolver-se ao longo dos últimos anos, nas mais variadas áreas de especialização. Dir-se-á que tudo está estudado e não há necessidade de mais contribuições. Como me atrevo, então, a vir a terreiro e formular o meu ponto de vista? A informação de que disponho de várias origens, em geral constituída por artigos de opinião, não me deixa numa posição muito confortável à partida, já que não me são acessíveis os estudos técnicos e técnico-económicos produzidos. Resta a minha condição de cidadão. Quero dizer, por outras palavras, que ao assumir a ousadia de manifestar a minha opinião, não estou a fazer mais do que usar o “direito de cidadania”, na certeza de que me será reconhecido.
5. Há uma realidade a que não podemos fugir. Portugal é um país pequeno e os seus recursos são limitados. Com uma dimensão longitudinal máxima da ordem dos 900 km e uma dimensão transversal máxima que pouco ultrapassará os 200 km, podemos dizer - perdoe-se-me a boutade... - que o TGV não cabe cá dentro!... Repare-se: é na faixa ocidental desenvolvida (em termos económicos), que tem por limites o Porto (e mais uns quantos quilómetros para Norte) e Lisboa (e uns tantos, poucos, para Sul), que se poderá, eventualmente, pensar na viabilidade (?) do TGV, concebendo uma linha inteiramente nova. E não se esqueça a visão paroquial de alguns autarcas que venderiam a alma ao diabo para ter uma paragem do TGV à sua “porta”... Note-se que a distância entre Lisboa e Porto pouco ultrapassa os 300 km, distância, essa, que é, nem mais nem menos, igual à percorrida em 1 hora, pelo TGV, em velocidade de cruzeiro! Outro aspecto que não pode deixar de ser analisado, e não tenho dúvidas de que o foi nos estudos já feitos, é o do tráfego que se prevê. Será que o tráfego previsto - e um distinto dirigente da CP já o pôs em causa em declarações vindas a público na Comunicação Social escrita - é suficiente para garantir uma exploração rentável? Ou não iremos cair na repetição dos défices crónicos do sistema ferroviário? Ignoro se já está pensado o modelo de exploração do TGV, isto é, se será entregue à CP ou se dará lugar a uma nova concessionária. Não obstante, permito-me recordar que, ainda em Março passado, o “Semanário Económico” noticiou que as dívidas acumuladas da CP e da REFER, até 2004, eram de 2400 e 3600 milhões de Euros, respectivamente, num total de 6000 milhões de Euros, ou seja, cerca de 4% do PIB! Só em 2004 o prejuízo operacional da CP atingiu 170 milhões de Euros. E, segundo as estimativas (quase sempre excedidas pela realidade), o TGV, entre Lisboa e Porto, de acordo com o “Semanário Económico”, custaria 6,6 mil milhões de Euros, ou seja, um encargo da mesma ordem de grandeza do actual nível de endividamento. Por enquanto, só falamos da linha Lisboa – Porto.
Mas prevê-se uma rede de alta velocidade para Portugal!!! Justifica-se um projecto desta natureza, que implica um investimento astronómico, mesmo que se atenue o impacto da despesa, com a sua construção faseada? Tanto quanto sei - são números vindos a público pelo “Jornal de Negócios” - só as ligações Lisboa/Porto, Porto/Madrid e Porto/Vigo atingem, segundo estimativas da RAVE, 7,3 mil milhões de Euros, ou na nossa moeda tradicional, 1,5 mil milhões de contos. Ignoro os encargos que resultam da construção das restantes linhas previstas, na rede de alta velocidade, mas os números que acabámos de reproduzir dão que pensar e... quase nos assustam. Onde é que vamos buscar os fundos (mesmo, repito, considerando as eventuais ajudas comunitárias, mais problemáticas numa Europa a 25 do que numa Europa a 15) para fazer face a um investimento que ultrapassa a escala da nossa realidade económica? Com certeza que aquele elevado montante não surgiu por acaso. Ele foi, sem dúvida, o fruto de laboriosos e profundos estudos económicos que devem ter incluído previsões de tráfego compatíveis com o desenvolvimento da nossa economia, estudos económico-sociais, estudos de impacte ambiental, etc., etc., e, obviamente, análises de custo-benefício.
Mas não é disso que se trata e que nos merece o maior respeito pelos especialistas que o fizeram. Do que se trata é do interesse geral do país, do que nós somos e do que desejamos ser, sempre com os pés bem assentes na terra! A nosso ver, o país não carece de uma rede ferroviária de Alta Velocidade. Carece, sim, de uma rede de transportes rápidos, cómodos e seguros, afeiçoados à realidade do país. Algo que assegure a mobilidade e, em consequência, promova um bom nível de acessibilidades. Nem mais nem menos. Da rede sugerida, e a título de exemplo, destaco apenas a linha Porto/Vigo, com pouco mais de 100 km de extensão e cujo tráfego, no futuro, é uma incógnita. Não “sinto” que a ligação Porto/Vigo vá desencadear uma explosão do tráfego capaz de justificar a ligação e o investimento. Pesem embora as boas relações de vizinhança entre o Norte de Portugal e a Região Autónoma da Galiza, penso que o estabelecimento de uma linha de alta velocidade não é indispensável. Não é, sequer, necessária.
6. Ouve-se, com frequência, dizer, no contexto de uma mesquinha rivalidade ibérica, nos mais variados domínios, que “a Espanha tem...”, “a Espanha fez...”, “a Espanha aconteceu...”, “a Espanha consegue...” etc., etc.. Com todo o respeito por todos os que, de boa fé, assim pensam, não há, em nossa opinião, comparação mais insensata. Porque a Espanha é um grande país, com uma área e uma população que são, números redondos, cinco vezes a nossa, uma produtividade laboral que é dupla da nossa, e um PIB que é 5,5 vezes o de Portugal, que, por sua vez é, setenta e três por cento da média europeia, de acordo com as notícias publicadas na imprensa do dia 4 de Junho2. São factos concretos que não podemos escamotear, por mais que queiramos ombrear com “nuestros hermanos”. Pessoalmente, não somos, não queremos ser “velhos do Restelo”, e desejando embora o melhor para o nosso país e para a nossa gente, desejamo-lo “com conta, peso e medida”. Deitando uma olhadela a países que fazem contas e não desbaratam os recursos de que dispõem, detenhamo-nos um pouco sobre os países nórdicos3, deixando de parte a Europa central - o coração económico da Europa -, que constitui uma realidade específica, como todos sabemos, e que neste domínio da alta velocidade se vai consolidando com as linhas de Amesterdão para a Alemanha e da mesma cidade para Paris, já concluídas. Tanto na Dinamarca (43.000 Km2 de superfície e 5,4 milhões de habitantes), como na Noruega, Suécia e Finlândia, a primazia foi dada aos comboios pendulares. Na Dinamarca está em curso um plano de renovação das vias, de forma a permitir uma velocidade máxima de 200 km/h. Quanto à Suécia que é, como se sabe, o país com um dos mais elevados PIB da Europa e do mundo, as suas principais linhas são Estocolmo/Gotemburgo e Estocolmo/Malmöe. A primeira, com 456 km de extensão, é percorrida em 2h55 m, num percurso non-stop a 210 km/h, com comboios pendulares. A linha da capital para Malmöe é, ainda, parcialmente em via única, mas a sua duplicação, em curso, permitirá uma velocidade máxima de 250 km/h, com os mesmos pendulares. Um outro aspecto que não podemos ignorar é que no mesmo espaço – canal, em sentido lato (Lisboa/Porto), existe uma auto-estrada que, quer queiramos quer não, constitui um terrível concorrente do comboio nos dias de hoje, mas que perderá (?) parte da sua importância se o tempo de percurso ferroviário for substancialmente reduzido, digamos para menos de 2 horas. A questão que se levanta é a de saber se para conseguir este objectivo é indispensável construir o TGV de raiz. Julgamos que não. A solução que se nos afigura sensata, num país com escassez de recursos e enormes carências nos mais variados sectores da vida nacional (e sem entrar em consideração com a crise actual que é conjuntural, mas que se vai prolongar por alguns anos), será aproveitar o que temos, e introduzir no sistema as melhorias possíveis, abandonando a ideia megalómana de uma rede de alta velocidade, exigentíssima na óptica do investimento e problemática em termos de exploração económica rentável. É óbvio que não esquecemos a ligação à Europa, via Madrid ou outra alternativa que os espanhóis quiserem. Estamos a isso sentenciados por força das políticas de transportes da EU, que certamente se disporá a apoiar-nos com uma significativa participação financeira. Estamos “sentenciados” mas, é importante dizê-lo, temos interesse nisso, se queremos estar na Europa de corpo inteiro. Intra-muros, creio que nos bastará a melhoria da linha do Norte que tem muitos detractores, e melhorias nas outras ligações assumidas como importantes face ao tráfego previsível. Se já está concretizada a melhoria de 155 km da linha do Norte, e, em fins de 2006, mais 66 km estarão melhorados, atingindo-se, assim, 2/3 da sua extensão total, então o que se impõe é a melhoria dos restantes 105 km para que toda a linha fique em condições técnicas de permitir uma velocidade média de 200 km/hora, utilizando os comboios pendulares que estão subaproveitados, conduzindo-os a um desempenho que se traduzirá na realização do percurso Lisboa/Porto em menos de 2 horas. Esta melhoria far-se-á a um custo substancialmente inferior ao de uma linha integralmente nova e dentro de um horizonte temporal mais próximo.
7. E a Inglaterra? Como é que as coisas se passam na pátria dos caminhos-de-ferro? Pelo relatório da “Comission for Integrated Transport” (CIT), de 20-04-2005, ficámos a saber que a STRATEGIC RAIL AUTHORITY (SRA) está a planear lançar uma consulta para saber se uma linha de alta velocidade deveria ser construída para ligar Londres com o Norte da Inglaterra e a Escócia. O espírito subjacente a todo o relatório a que nos estamos reportando, é o de uma grande preocupação de não serem tomadas decisões que não estejam baseadas em sólida análise de custo-benefício. Não temos dúvida de que tal análise foi realizada em Portugal, mas mantemos a convicção de que é possível encontrar soluções alternativas, em particular no percurso Lisboa/Porto, em que as dificuldades de escolha de um traçado em área densamente povoada e as inerentes implicações ambientais são geradoras de grandes incertezas e incógnitas. Com efeito, os encargos com expropriações e indemnizações e outros imponderáveis, podem agravar, profundamente, as previsões do lado “dos custos”, e, obviamente, as conclusões das análises “custo-benefício”.
Resumindo
-a) Não parece justificar-se a construção, em Portugal, de uma “rede” de alta velocidade;
-b) A única linha TGV a construir em corredor inteiramente novo será aquela que não podemos evitar, e temos interesse em concretizar, passe a repetição, a ligação à Europa, isto é, a linha Lisboa/Madrid.
-c) A linha Lisboa/Porto poderá utilizar a via existente, devidamente melhorada, se quisermos fazer contas a sério.
-d) Deixemos para “segundas núpcias” uma “rede” de alta velocidade, se é que alguma vez viremos a reconhecer a sua necessidade...
8. Ouve-se e lê-se que o sector da construção virá a ser altamente beneficiado, e encontrará motivos de optimismo para a sua sobrevivência, em condições sustentáveis durante muitos anos. Não esqueçamos, porém, que o material circulante terá de ser importado na sua quase totalidade, se não mesmo na totalidade. Se queremos gastar bem, isto é, com o maior benefício para as populações, então não nos falta o que fazer na área das obras públicas, face às enormes carências de que o país sofre. Sem esgotar a matéria, e sem respeitar a hierarquia das necessidades e dos investimentos, parecem-nos de salientar os seguintes problemas: Energia: reduzir a factura energética na produção de hidroelectricidade (estão aproveitados cerca de 50% dos nossos recursos) e desenvolver as energias também renováveis (eólica, fotovoltaica, das marés, etc.); Agricultura: só a construção da totalidade da rede de rega do aproveitamento de fins múltiplos de Alqueva, em vez dos 20.000 hectares a cobrir, no horizonte da presente legislatura, absorverá recursos enormes e mão-de-obra avultada, dinamizando o regadio no Alentejo; Transportes públicos urbanos e suburbanos: investir fortemente; Estradas: com o crescimento do parque automóvel, não é possível abandonar quer a rede principal, quer a rede regional, e, talvez mais ainda, a rede municipal, onde as carências são gritantes; Saúde: há um mundo de coisas a fazer para suprir as deficiências, insuficiências e incapacidades das infra-estruturas da saúde (hospitais, centros de saúde, equipamentos técnicos vários, etc., etc.); Abastecimento de água às populações: estão resolvidos todos os problemas? Não será de começar a pensar na “dessalinização” da água do mar, em grande escala, face à “pressão” das sucessivas secas periódicas? Saneamento básico: a depuração das águas residuais, a despoluição dos cursos de água, o tratamento de resíduos sólidos urbanos e dos resíduos industriais perigosos estão longe, muito longe de estar resolvidos – lembremo-nos, por exemplo, da polémica da co-incineração que se arrasta há anos...; Etc..., etc... Não nos faltam problemas para resolver e para gastar dinheiro. O que pode faltar é... dinheiro.
9. Não foi por acaso que o Dr. Victor Constâncio, no 6.º Congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Caminho-de-ferro, se pronunciou sobre a “necessidade de assegurar a sustentabilidade económica do sector dos transportes”. Segundo o “Semanário Económico“ de 18-03-2005, o Governador do Banco de Portugal “...defendeu que o Estado não tem capacidade financeira para avançar com todos os projectos de transportes, como a conclusão do Plano Rodoviário Nacional, a implementação dos comboios de alta velocidade (TGV) e um novo aeroporto em Lisboa”. A bom entendedor... admitindo uma extrapolação para horizonte temporal mais alargado do que decorre da mencionada advertência que, eventualmente, terá um significado conjuntural!...
A - Em 1949, a extensão da rede atingia 3564 Kms, e hoje, mais de 50 anos decorridos, está reduzida a 2790 Kms, por força das várias desactivações das linhas secundárias sem rentabilidade. A extensão das linhas já electrificadas ronda os 1350 Kms, números redondos.
B - O PIB da vizinha Espanha atingiu, em 2002, 596 475 000 000 de US dólares, enquanto o de Portugal se ficou, no mesmo ano, pelos 109 114 000 000. 3 - Não foi por acaso que escolhemos estes quatro países para termo de comparação. É que o seu rendimento nacional per capita situa-se entre 2,5 vezes e 4 vezes o de Portugal

Mergulho Subterrâneo na nascente “Poço Suão Velho”




Depois de dois anos à espera de ser mergulhada, esta nascente revelou-se pouco profunda, desde o espelho de água, apenas uns escassos 6m de profundidade, obstruída em todas as direcções. A cavidade submersa apresenta uma secção em “T” com uma ligeira curva para oeste. (mais detalhes serão divulgados em topografia).

Os estratos calcários encontram-se alinhados horizontalmente com bastantes fendas (fracturas), o que se calcula, bastante difícil a continuidade para zonas mais profundas.

Mesmo tentando a desobstrução neste local, seria demasiado penoso, pelo simples facto de ter pouco mais do que 1m/1,5m de largura, noutros locais até bem menos, e a argila que ali se encontra, por causa da colmatação. Desobstruções tentadas em 1999 e 2000 no Poço Suão revelaram isso mesmo.
Em 2005 tiramos bastante pedra do Poço Suão (cerca de 2,5m de profundidade numa área de 6m2) que em 2006 a água que brotou devido ao inverno chuvoso, não colmatou, pelo menos com argila. Apenas apareceu bastante areia no fundo do sifão (visível a olho nu).
Obviamente que continuaremos a insistir na Nascente Poço Suão, onde retiramos perto de 4T de pedra em 4 dias de trabalhos de desobstrução.

Ainda à muito a fazer no Poço Suão, talvez tenhamos que fazer desobstruções debaixo de água, utilizando equipamento específico.
Iremos tentar desobstruir o Algar do Louro mais a montante do Poço Suão Velho, a cerca de 1,5Km em linha recta, esta tem uma desobstrução a 80m de profundidade, a sua cota de entrada ainda não está estabelecida em relação à cota do espelho de água das nascentes, pelos nossos cálculos será de cerca de uns 100m de desnível o que pressupõem que a desobstrução do Algar do Louro venha a dar frutos. Assim o esperamos!O NEALC pretende fazer uma campanha de verão para a desobstrução do Algar do Louro, que a seu tempo será divulgada.

Espeleo-mergulhadores: John Pereira e Mário Lança – Porto
http://espeleonealc.blogspot.com/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Carta do Grupo de Pioneiros dos Escuteiros de Aljubarrota


Exmos. Srs. Defensores da Passagem do TGV:

Dirigimo-nos a vós, não comos pessoas de grande relevância social ou outros quaisquer valores que caracterizam alguém poderoso, mas como humildes escuteiros que vivem pela regra da simplicidade, como se poderá verificar pelo conteúdo da carta.


Nós, Escuteiros de Aljubarrota, da IIIª Secção – Pioneiros fomos acampar para o Vale do Mogo, que achamos que é um exemplo único de Natureza, pois ali respira-se ar puro, convive-se com o meio natural e sentimo-nos bastante bem naquele ambiente. Propusemo-nos a reconstruir um parque de merendas ale existente, a construir uma ponte sobre a ribeira que, em anos de maior queda de água, ali corre.

Será uma pena se nós fossemos um dos últimos grupos a acampar neste magnífico lugar, onde já viveram os nossos antepassados e de onde são muitas as lendas contadas.
Quando acabámos de reconstruir essa ponte e uma mesa, pensámos que seria uma pensa se um simples comboio destruísse toda a Natureza proveniente de varios milhões anos e todo o nosso esforço e preservação dos espaços ao ar livre.


Com esta simples carta apelamos que ouçam a voz de vários jovens preocupados com a protecção de um grande tesouro: A Natureza.

São já poucos na nossa região e, ate mesmo no nosso país, os locais onde podemos percorrer quilómetros de natureza pura, quase inalterada pela mão humana. Este local onde pernoitámos durante três noites é também um local de prática desportiva de BTT, pois foram muitos aqueles que por lá passaram, aproveitando o ar puro e apreciando as paisagens únicas que aquele vale lhes proporciona.

A todos aqueles que ouvirem ou lerem esta carta e que pensam em destruir o parque Natural da nossa região apelamos que reflictam bem, nos benefícios para o homem: será ar puro ou a poluição causada pela modernização?

Será mesmo necessário um TGV a atravessar uma parte do país com uns singelos 300 km de comprimento? Ou será preferível investir nas vias já existentes e na nossa ligação ao estrangeiro?

Obrigado pela atenção que nos dispensaram.

O Grupo de Pioneiros dos Escuteiros de Aljubarrota.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Ecos da Sessão de Esclarecimento Ambiental - TGV 9-2-2008


Alcobaça: Movimento anti-TGV - ATAC denuncia erros técnicos


Dirigentes do movimento ATAC (Amigos da Terra por Amor à Camisola) denunciaram este sábado em Alcobaça aquilo que consideram ser erros técnicos da linha de TGV entre Lisboa e Coimbra, que ignora locais de relevo ambiental e patrimonial.

«Ainda hoje estivemos em grutas não referenciadas pela RAVE (empresa que gere o processo) e que vão ficar destruídas pela linha», afirmou Noémia Rodrigues, que acusa os promotores de optarem pela solução técnica «mais barata» sem ligar às populações e localidades divididas

O movimento tenciona avançar com uma acção judicial contra o Estado, «se possível até nas instâncias europeias», pelo que irá apresentar uma contestação ao projecto da RAVE, com recurso a «pareceres técnicos que estão a ser reunidos».

Hoje de tarde, o ATAC realizou uma sessão de esclarecimento na localidade de Ataíja de Baixo, Alcobaça, onde elencou os riscos ambientais do projecto, bem como os prejuízos causados às populações.

Na reunião, esteve presente João Salgueiro, presidente da Câmara de Porto de Mós (PS), que também defendeu uma opção diferente para o traçado.

«Das propostas em cima da mesa, a solução que vai ser adoptada é que menos penaliza Porto de Mós« mas João Salgueiro mostra-se solidário com as queixas do concelho vizinho de Alcobaça, considerando que a tutela deveria atender às reivindicações das populações.

Uma solução que iria contentar todas as partes seria a construção do TGV entre o IC2 e a serra dos Candeeiros, criando um novo limite para o Parque Natural e »libertando« a envolvente da estrada nacional para um »correcto ordenamento do território«.

«Neste momento, o limite do parque é a estrada que parece mais um estaleiro de obras mas onde nós não podemos intervir», lamentou João Salgueiro.

Em curso está uma petição a enviar ao Parlamento promovida pelas freguesias mais atingidas pelo traçado que já conta com milhares de assinaturas.

«Na minha freguesia são destruídas dez casas e há várias terras divididas«, afirmou José Lourenço, presidente da Junta de Prazeres de Aljubarrota, que se queixa de nunca ter sido ouvido pelos promotores do traçado.

«Nós queremos que haja um estudo comparativo a leste e a oeste da Serra dos Candeeiros» porque «não aceitamos que nos imponham uma solução única», acrescentou.

As autarquias defendem que a linha do TGV, a ser construída, deverá ser instalada junto ao corredor da A1 ou da Linha do Norte em vez de criar um novo «corredor que vem trazer mais problemas».

Amílcar Raimundo, da Junta de São Vicente, concorda e acredita ainda que a eventual escolha de Alcochete para acolher o novo aeroporto de Lisboa possa desviar a linha para este.

«O TGV fazia sentido a partir da Ota mas assim já não sei«, explicou Amílcar Raimundo.

Valdemar Rodrigues, um engenheiro ambiental que trabalhou na RAVE, considerou que é uma »péssima solução construir um novo canal de alta velocidade« quando já existem outros transportes alternativos.

«Do ponto de vista ambiental e social é um projecto totalmente irracional», sustentou.

Já os ambientalistas, que estiveram hoje numa sessão de esclarecimento em Ataija de Cima, também contestam a construção da linha.

José António Gaspar, dirigente regional da Quercus (que deu um parecer negativo ao traçado), recorda que a linha vai afectar uma zona ambiental muito sensível nas nascentes do rio Alcoa, com colónias de vários animais (entre as quais uma espécie de águia e lontras) e fauna protegida (carvalhal e azinhal).

O presidente da Associação de Defesa do Ambiente e do Património de Alcobaça (ADEPA), Carlos Mendonça, classificou de «crime» a construção do TGV nesta zona, criticando mesmo a opção de uma linha entre Lisboa e Porto.

«Não acreditamos que alguma vez venha a ser rentável«, acrescentou o dirigente, que aponta a riqueza arqueológica do local como uma das questões mais sensíveis.

Na ribeira do Mogo, existem »13 grutas referenciadas« com ocupação neolítica, cujo levantamento arqueológico ainda não foi concluído, salientou ainda Carlos Mendonça.


in Diário Digital / Lusa 09-02-2008 17:53:00

sábado, 2 de fevereiro de 2008

GOVERNO IGNOROU PARECER SOBRE O TGV

Nunes Correia explica opção do Governo sobre traçado do TGV



Nunes Correia responde ao PSD, que acusa Governo de falta de transparência sobre TGV




Comissão de Avaliação considerou que havia impactos negativos irreversíveis


O ministério do Ambiente aprovou o traçado de TGV entre a Ota e Pombal contra o parecer final da Comissão de Avaliação do projecto. Na investigação do processo, a SIC revela-lhe hoje como o Governo ignorou as conclusões de um parecer de 11 entidades que diziam não estar em condições de propor a aprovação de "nenhuma das alternativas".


A decisão governamental sobre o traçado do TGV entre Alcobaça e Pombal deixou populações em estado de choque face à previsão de destruição de casas habitadas e em construção e de espécies protegidas que ninguém deixava abater.


Ribeira do Mogo, é uma das zonas de maior risco



Provocará também o encerramento e prejuízos em muitas actividades económicas e atinge a zona protegida do Vale da Ribeira do Mogo. Uma enorme lista de impactos irreversíveis descritos no parecer final da comissão de Avaliação do projecto.

Mas nada disto sensibilizou o Ministério do Ambiente, que ignorou o facto da Comissão de Avaliação dizer nas conclusões do seu relatório que as consequências em todas as alternativas são significativamente impactantes e não minimizáveis.

Governo ignorou parecer da Comissão de Avaliação



A comissão, composta por técnicos de 11 entidades públicas, concluiu assim que não estava em condições de propor a aprovação de nenhuma das alternativas em causa.
Apesar disso, o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, deu "luz verde" ao projecto, aceitando uma recomendação dos dirigentes do Ministério do Ambiente, que estavam à frente dos estudos de avaliação ambiental.

"Se fossem inviabilizados todas os corredores alternativos que foram efectivamente analisados, então não podiamos ter nenhuma ligação entre Lisboa/Porto, porque o troço Alenquer/Pombal é um troço fundamental dessa ligação", disse António Gonçalves Henriques, director-geral da Agência Portuguesa do Ambiente.

Foi com este argumento que a Autoridade de Avaliação Ambiental propôs ao secretário de Estado que deixasse passar o combóio de Alta Velocidade. O percurso escolhido fica a oeste da Serra dos Candeeiros e atravessa o concelho de Alcobaça.

Se a Comissão de Coordenação Regional do Centro não tivesse afastado os técnicos e alterado o parecer, o Governo não tinha argumentos para viabilizar uma parte do traçado que a Rede de Alta Velocidade defendia.

RAVE não estudou alternativas

Quem conhece o processo garante que RAVE não estudou todas as alternativas. "O que foi estudado foi o oeste, mas foi expressamente abandonado a região que ficava a este da Serra dos Candeeiros", garante José Gonçalves Sapinho, presidente da Câmara de Alcobaça.

De fora do estudo ficou o chamado lote C2, a nascente da Serra dos Candeeiros, que ninguém sabe se teria menos impactos que o corredor escolhido.

Quase todas as entidades consultadas dizem que os estudos efectuados são muito incompletos e que há impactos muito significativos e irreversíveis.
Algumas recomendam expressamente o estudo de outros traçados, nomedamente duas entidades estatais. A Direcção-Geral de Recursos Florestais diz que o parecer da Comissão de Coordenação Regional de Lisboa e Vale do Tejo é ainda mais radical.

Admitindo a possibilidade do novo aeroporto ser no Campo de Tiro de Alcochete, faz uma proposta muito clara: "caso não se confirme a ligação à Ota poderiam ser equacionadas outras alternativas menos gravosas".

José Manuel Mestre-Jornalista

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

RAVE CRIA ....... MAIA APADRINHA .........

TGV avança contra técnicos


Afastados autores de parecer que chumbava traçado de alta velocidade



Um organismo do Governo (a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro - CCDRC) pressionou dois técnicos superiores a mudarem um parecer que chumbava todos os traçados de TGV entre Alcobaça e Pombal. De acordo com o que apurou esta investigação exclusiva da SIC, os técnicos não aceitaram a pressão e foram, por isso, afastados compulsivamente da Comissão de Avaliação do projecto.






A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) emitiu um parecer desfavorável a todos os traçados previstos pela Rede de Alta Velocidade para a ligação entre Alcobaça e Pombal. O parecer, elaborado por dois técnicos superiores, foi aprovado por toda a hierarquia da CCDRC e enviado para Lisboa. Apenas cinco dias depois de terem aprovado o documento, os dirigentes da CCDRC mudaram de posição. Directamente dependentes do governo, queriam agora que o parecer indicasse qual era o traçado mais favorável.

"Foi a própria Comissão de Avaliação que nos colocou essa questão", disse à SIC o vice-presidente da CCDRC, Henrique Moura Maia, reconhecendo pressões superiores para alterar o conteúdo do parecer. Um parecer negativo desta comissão inviabilizaria inevitavelmente os traçados propostos pela Rede de Alta Velocidade (RAVE) para atravessamento da zona entre a Ota e Pombal. Apontar um traçado como menos mau foi uma forma de contornar a situação.

Na entrevista à SIC, o vice-presidente Henrique Moura Maia diz que "as alternativas podem ser todas más mas, decididamente, havia que hierarquizá-las" porque "quem vai ter que decidir, vai ter que saber qual é a menos má". Com esta alteração no parecer, o Governo já poderia viabilizar um dos traçados, como de resto aconteceu a 21 de Dezembro quando o Ministério do Ambiente emitiu a Declaração de Impacto Ambiental favorável ao projecto.


Impactes negativos irreversíveis e não minimizáveis





No parecer antes emitido, e que tinha sido aprovado e enviado para a Agência Portuguesa de Ambiente pelo vice-presidente da CCDRC, explicava-se que "os impactes gerados em termos de socio-economia, do ordenamento do território e usos do solo são negativos, muito significativos, irreversíveis e não minimizáveis (residuais)", permanecendo mesmo depois das medidas de minimização prevista no Estudo de Impacto Ambiental promovido pela RAVE. O Estudo de Impacto Ambiental da RAVE é também duramente criticado no paracer: "Elege um conjunto de alternativas designadas por "alternativas ambientalmente mais vantajosas", as quais são fortemente impactantes. Esta atitude reflecte que houve uma subavaliação da magnitude dos impactos, no seu todo, pelo que nenhuma das soluções apresentadas possa ser considerada como viável, nesse contexto".


Destituição por telefone


A CCDRC mudou de posição no mesmo dia em que o estudo estava a ser discutido pela Comissão de Avaliação de impacto ambiental do projecto (Troço de Alta Velocidade C1, entre a Ota e Pombal). A reunião era decisiva, mas uma hora depois de ter começado foi interrompida por um telefonema do vice-presidente e do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro - queriam que os técnicos superiores escolhessem uma das alternativas propostas. Os técnicos não aceitaram a pressão, como explicam num relatório a que a SIC teve acesso e arquivado na CCDRC (está assinado pelos próprios técnicos): "Esta posição não pode ser aceite (...) dado que todas /as alternativas/ apresentam impactes negativos muito significativos". Responderam ainda que "uma eventual hierarquização, a ter sido possível, teria naturalmente constado do parecer dias antes homologado superiormente". Na administração pública os técnicos não podem ser coagidos a aceitar ordens que considerem violadoras da lei. O resultado foi a destituição pura e simples: "Perante as objecções levantadas (...) o sr. presidente da CCDRC retirou-lhes a confiança (...) tendo adiantado que iria proceder à nomeação de novos representantes" regionais na Comissão de Avaliação do projecto.


Autor da pressão recusa explicações


O presidente da Autoridade de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) reconhece o conflito para viabilização de um dos traçados de TGV. Em entrevista à SIC, António Gonçalves Henriques (também director-geral da Agência Portuguesa de Ambiente) diz que se tratou de "um problema que nós tivemos que gerir com a CCDR do Centro". O vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro não nega que os técnicos tenha sido afastados por recusarem ceder a pressões do presidente da CCDRC (Alfredo Rodrigues Marques) e de si próprio.: "Não lhe vou dizer porque é que eles foram mudados, isso é uma questão de gestão interna e isso aí não me vai perguntar", disse à SIC antes de repetir, com veemência: "Já me fez três vezes a mesma pergunta, porque é que os técnicos foram mudados! É uma questão de gestão interna da casa, pura e simples, e agradecia que essa questão não me voltasse a colocar, tá bom?!"


Parecer assinado por licenciado em engenharia electrotécnica





No dia seguinte ao telefonema, Henrique Moura Maia fez substituir os técnicos superiores por uma chefe de serviços e uma directora da CCDRC que já se apresentaram na reunião seguinte da Comissão de Avaliação do projecto. A Comissão de Avaliação é composta por representantes de onze entidades diferentes e emiteu um parecer que foi depois entregue ao Governo. As actas das reuniões decisivas da Comissão de Avaliação podem conter informação relevante sobre o "incidente" e o que se passou a seguir no interior da referida comissão mas, estranhamente, não contam do processo que a SIC pediu para consultar na íntegra (a consulta é pública e a disponibilização de todos os documentos obrigatória). A primeira reunião com os novos representantes da CCDRC discutiu um parecer adicional deste organismo que indica a chamada alternativa NB como a mais favorável de todas as soluções apresentadas pela RAVE. O parecer apresenta uma nova grelha de avaliação dos impactos anotados pelos técnicos superiores que tinham elaborado o parecer negativo e tem uma curiosidade: não está assinado por nenhum técnico superior mas apenas pelo vice-presidente Henrique Moura Maia, licenciado em engenharia electrotécnica (ver currículum vítae detalhado em:http://www.ccdrc.pt/ccdrc/vice-presidencia).


José Manuel Mestre - Jornalista